Para iniciar esta rubrica não podíamos deixar de nos lembrar logo do seu filho mais querido e distinto Comendador ARTHUR CUPERTINO DE MIRANDA.
Relendo o Livro ARTHUR CUPERTINO DE MIRANDA Homenagem Nacional – 1988, editado pelo "VILA NOVA", sentimo-nos tentados a citar algumas frases do testemunho nele inserido e da autoria do Dr. Agostinho Fernandes, Ex - Presidente da Câmara Municipal de V. N. de Famalicão:
"Arthur Cupertino de Miranda, ilustre famalicense e cidadão de Portugal e do Mundo, é (foi) uma personalidade histórica, que no seu tempo e espaço existencial, soube indicar e desbravar o caminho a seguir, soube criar obras com lugar na história, e levá-las irresistivelmente até ao fim.
Arthur Cupertino de Miranda é (foi) uma personalidade que ficaria na história só por ter fundado e lançado aquele que se tornou, sob a sua orientação e com o seu trabalho persistente e inteligência inovadora, no maior Banco Comercial Português (BPA). Ficaria na história por criar outras empresas, nomeadamente na área do turismo, contribuindo desse modo para o desenvolvimento e progresso do País. Mas o que faz de Arthur Cupertino de Miranda uma personalidade é algo de mais belo, nobre e profundo, porque foi mais longe, viu mais largo e, para além de criar riqueza, ele quis e soube intervir nos campos da cultura, da poesia, das artes e letras e da solidariedade social. V. N. de Famalicão deve-lhe o exemplo ímpar de homem criador e inovador espelhado na obra do Louro e na Fundação que tem o seu nome e que ele determinou que seja "Templo de Arte, de Cultura e de Bondade" e ainda "Louvor ao trabalho, Honra ao saber, Hino ao Amor, Testemunho (do seu devotamento) ao Povo Famalicense".
Homenagear (e recordar com muita saudade) Arthur Cupertino de Miranda é um dever e uma honra dos seus contemporâneos e concidadãos, é, de modo simples, mas solene, dizer em voz alta:
- Bem haja, Senhor Comendador, pelo exemplo de trabalho, de persistência, de inteligência aberta às novas ideias e tecnologias, de amor à sua terra natal... e ao seu País!
- Bem haja, Senhor Comendador, pela Fundação Cupertino de Miranda e pelo que ela representa em termos de espaço e património cultural..."
E agora, neste último ano do Século, e ao elaborar esta página sobre o Louro e as suas gentes para, em nome de Junta de Freguesia, pôr a circular, via Internet, em todo Mundo, desejamos acrescentar mais um
- Bem haja, Senhor Comendador e sua esposa D. Elzira, lá onde o Esplendor da Luz Perpétua os ilumina, pelo bem que fizeram enquanto peregrinos desta terra, e dum modo especial nesta freguesia do Louro. A Igreja paroquial e o Centro Pastoral, para além de outras grandes obras que ofereceram a esta terra, documentam a sua grande generosidade e espirito de fé e perpetuam a sua memória para sempre.
APONTAMENTOS BIOGRÁFICOS
ARTHUR CUPERTINO DE MIRANDA nasceu a 15 de Setembro de 1892, na freguesia de Santa Lucrécia do Louro, concelho de Vila Nova de Famalicão.
Era o mais novo de quatro irmãos: José (n. 5 Fevereiro de 1875), Augusto (n. 18 Abril de 1876) e António (n. 21 Janeiro de 1886).
Arthur Cupertino de Miranda viu a luz do dia na casa paterna da Quinta de Felgueiras, à margem da estrada nacional Famalicão-Barcelos adquirida por seu pai, na altura do casamento.
Seus pais, que tinham casado cerca de 1867, eram ambos naturais do Concelho de Vila Nova de Famalicão. O pai, Francisco Cupertino de Miranda (n. 24 Setembro 1825) na casa da Torre, freguesia de S. Salvador de Joane. A mãe, Joaquina Nunes de Oliveira (n. 18 Maio de 1850), da casa do Galante do Penedo, na referida freguesia de Santa Lucrécia do Louro.
Como muitos outros portugueses e, nomeadamente, como muitos outros famalicenses, Francisco Cupertino de Miranda emigrou para o Brasil. É certo que não parece ter sido muito bafejado pela fortuna, mas também não regressou com as marcas dolorosas que os sertões brasileiros imprimiam em muitos dos emigrados.
De António Luís Machado de Guimarães a Joaquim José de Sousa Fernandes, muitas foram as gerações de famalicenses a experimentarem a aventura da emigração. Aliás, com resultados bem diversos. Por cada português emigrado no Brasil que regressava com maior ou menor fortuna e que conhecemos o nome, eram centenas os que no Brasil ficavam, incógnitos e derrotados.
Depois das primeiras letras na escola de Linhares, na sua freguesia natal, Arthur Cupertino de Miranda rumou para o Porto. Aí frequentou o Liceu Rodrigues de Freitas, transitando depois para o velho Instituto Industrial e Comercial, que ocupava então uma ala da Academia Politécnica.
Dedicado à poesia, nesta época da sua vida, viria a fundar, com os amigos Nuno Simões e Veiga Pires, o quinzenário de letras "A Lyra" que se publicou durante o ano lectivo de 1910 e onde colaboraram alguns futuros nomes conhecidos da intelectualidade portuguesa.
Jovem Socialista, viria a participar no Congresso do Partido Socialista Português, que se realizou na cidade de Guimarães, em 1913.
A esse congresso partidário, apresentaria uma comunicação sobre "O Problema da Lavoura Nacional" que, depois de discutido, seria aprovado por aclamação.
O discurso inaugural que proferiu nesse congresso socialista de Guimarães, dada a ausência do respectivo chefe partidário, viria a levar o congresso a elegê-lo para o Conselho Directivo do Partido, cargo que não aceitou.
Entretanto, Arthur Cupertino de Miranda entrava para os quadros da Casa Bancária Fernandes Guimarães, no Porto, de onde transitaria, algum tempo depois, para o Banco Popular Português. Era o início de uma vida de trabalho dedicada à banca.
Pela escritura de 14 de Maio de 1919, fundava-se a Casa Bancária Cupertino de Miranda & Irmão, Lda., com sede na Rua de Sá da Bandeira, nº 9, na cidade do Porto.
Constituíram esta sociedade, com um capital de 100 contos, Arthur Cupertino de Miranda (com uma quota de trinta contos), seu irmão Augusto Cupertino de Miranda e o Banco Popular Português.
Destacando-se logo de início, concentrando em si os poderes de gerência, por deliberação dos sócios de 15 de Fevereiro de 1921, Arthur Cupertino de Miranda viria logo a seguir a concentrar igualmente todo o capital, adquirindo primeiro, em 4 de Fevereiro de 1921, a quota do Banco Popular Português e depois, em 28 de Agosto de 1922, a de seu irmão Augusto Cupertino de Miranda.
Ainda nesse ano de 1922, por escritura de 14 de Outubro, é o capital social da Casa Cupertino de Miranda e Irmão, Lda., elevado para 2.000 contos.
Já no final dos anos 20, concretamente em 10 de Outubro de 1928, esta Casa Cupertino de Miranda & Irmão, Lda., transformava-se no Banco Comercio e Ultramar, com 17.000 contos de capital.
No início dos anos trinta, o Banco Comercio e Ultramar trespassa o seu estabelecimento no nº 9 da Rua de Sá da Bandeira, para a sociedade Cupertino de Miranda & Cª, constituída por Arthur Cupertino de Miranda e João Ildefonso Bordello, com o capital de 5.500 contos. Aqui se manteve a sede desta sociedade desde 30 de Abril de 1931 até 6 de Novembro de 1933, data em que se mudou para o nº 56 dessa mesma rua portuense.
Entretanto, com a crise internacional dos anos trinta, sucediam-se as falências de casas bancárias. Como muitas outras congéneres, as casas famalicenses Brandão & Cª. abrem falência. Na sequência dos pedidos dos órgãos económicos famalicenses, Arthur Cupertino de Miranda acede abrir em Vila Nova de Famalicão a sua primeira agência, que viria a ser inaugurada em 14 de Maio de 1932.
Em 1931 o Brasil, fortemente atingido pela crise internacional, suspende o pagamento, por três anos, de juros e amortizações dos títulos da sua dívida externa.
O pânico originado em Portugal por esta medida do Governo Brasileiro leva à constituição de uma "Comissão de Defesa dos Portadores de Títulos de Crédito". Nesta conjuntura difícil, Arthur Cupertino de Miranda vê o seu nome indicado pelo presidente do centro Comercial do Porto, António Domingues de Freitas, para representar os interesses portugueses junto do Governo Brasileiro.
Em 1934 desloca-se ao Brasil tentando, pelo menos, atenuar a dureza das posições governamentais brasileiras. Depois de várias conversações com o ministro brasileiro da Fazenda, Osvaldo Aranha, consegue que os portugueses portadores de títulos vejam a sua situação razoavelmente melhorada.
Publica então "O Brasil – as suas Dívidas Internas e os Interesses Portugueses".
Dado o êxito da sua missão em terras brasileiras, o Governo Português condecorou-o com o grau de Comendador da Ordem Militar de Cristo.
Igualmente a "Association Nationale des Porteurs de Valeurs Mobilières de Paris" e o "Council of Foreign Bound Holders", de Londres, fazem chegar a Arthur Cupertino de Miranda a expressão do seu reconhecimento pelos resultados obtidos nas negociações com o Governo Brasileiro.
Em 10 de Novembro de 1937, novamente o Governo Brasileiro se vê forçado a suspender o serviço da dívida externa. Na sequência dos acontecimentos Arthur Cupertino de Miranda desloca-se novamente ao Brasil em 1939, tentando defender, mais uma vez, os interesses portugueses.
Como corolário da actividade desenvolvida em torno dos problemas da dívida externa brasileira publica, em 1938, "O Plano Quadrienal das dívidas Externas do Brasil – União, Estados e Municípios".
Mesmo durante a grave crise mundial desta década de trinta, Arthur Cupertino de Miranda conseguiu, com o seu trabalho e o seu talento, fazer prosperar a Casa Bancária Cupertino de Miranda & C.ª. E assim, em 31 de Dezembro de 1942, em plena Segunda Guerra Mundial, esta sociedade é transformada em sociedade anónima com um capital de 15.000 contos. Nasce o Banco Português do Atlântico.
Presidente do Conselho de Administração do BPA desde 1943, e a partir de 1972 do seu Conselho Geral, Cupertino de Miranda dedica-se desde esse momento à implantação e alargamento das actividades deste novo banco comercial, com resultados que falam por si.
Em Março de 1950 procede-se à incorporação do Banco Português do Continente e Ilhas, que proporciona a abertura da Sede Central do Banco Português do Atlântico na Rua do Ouro, em Lisboa. Punha-se, assim, termo a um processo que se arrastava desde Maio de 1943 e que visava a presença do banco na capital.
Ainda nos anos cinquenta, nova incorporação se concretiza. Desta vez foi a casa Raposo de Magalhães que traz ao Banco Português do Atlântico uma sede de agências no centro do país.
Uma das linhas de desenvolvimento da sua actividade bancária, dirigiu-a Arthur Cupertino de Miranda para a então África Portuguesa. Dentro desta linha de rumo, o Banco Português do Atlântico participa com 50% do capital na fundação do Banco Comercial de Angola, em Junho de 1955. Banco que veria inaugurada a sua sede, em Luanda, em 28 de Janeiro de 1967.
Como símbolo do desenvolvimento que Arthur Cupertino de Miranda conseguia imprimir ao Banco Português do Atlântico, é inaugurada a nova sede, o Palácio Atlântico, em Janeiro de 1951, na Praça de D. João I, no Porto.
Mas a carreira bancária de Cupertino de Miranda não se limitou à gestão do banco por si fundado. E é assim que é eleito para o Conselho Nacional de Crédito em representação dos bancos comerciais. É igualmente eleito Vice-Presidente da Assembleia Geral da Sociedade Financeira Portuguesa.
Em 1969, comemoraram-se as Bodas de Ouro do Banco Português do Atlântico. Mais precisamente, talvez, comemoraram-se os cinquenta anos da actividade bancária de Arthur Cupertino de Miranda. Nesta ocasião, na sessão solene realizada na Sociedade de Geografia, foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Benemerência.
Na mesma ocasião, foi também homenageado pela Câmara Municipal do Porto, e ainda pela Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, numa Sessão Solene presidida pelo Embaixador Augusto de Castro. A prestigiosa Associação quis ilustrar então o acto com a cunhagem de uma medalha comemorativa da efeméride.
Alargando os seus interesses ao âmbito das actividades económicas, Arthur Cupertino de Miranda esteve presente na fundação da "Covina – Companhia Nacional Vidreira, SARL"; na "Covibra – Companhia Vidreira do Brasil"; na Lusotur – Sociedade Financeira de Turismo, SARL".
Sai da sua iniciativa, igualmente, o primeiro Fundo de Investimento Português: o "Fundo Investimento Atlântico".
Nos anos 60, foi hora do regresso ao conselho e à freguesia natal. Regresso bem marcado por uma série de obras com que Arthur Cupertino de Miranda quis testemunhar o seu afecto às gentes de Famalicão.
De todas elas destaca-se, sem dúvida, a Fundação Cupertino de Miranda. Criada em 1964, com estatutos aprovados em 12 de Novembro desse ano, a Fundação seria solenemente inaugurada em 8 de Dezembro de 1972.
Perguntaram uma vez a Alexandre Herculano qual era a sua divisa. O mestre respondeu: "Querer é poder. Todos desejam, mas só os grandes caracteres querem".
Durante toda a sua vida, Arthur Cupertino de Miranda tem mostrado que é um homem que quer.
QUERIAM QUE ELE FOSSE MINISTRO!...
MAS FICOU... SALAZAR
Após o golpe de 28 de Maio de 1926, os generais prevaleciam nos ministérios do Terreiro do Paço. Cupertino de Miranda tinha já nessa altura, uma grande fama como financeiro: possuía uma casa bancária no Porto e escrevia artigos sobre finanças no «Primeiro de Janeiro».
O general Ciril de Cordes mandou um emissário a convidá-lo para Ministro das Finanças. Cupertino de Miranda recusou o convite, mas indicou um homem «todo vosso» e doutor em Coimbra: Salazar.
Salazar aceitou o cargo, mas passados três dias foi-se embora, pois não aceitaram as suas condições.
Os generais diziam, na altura, que Cupertino de Miranda não era «dos deles». Foi sempre um «contraditor» de Salazar, embora reconheça que o ditador sempre teve uma grande consideração por ele.
10 DIAS NA CASA DE RECLUSÃO
CUPERTINO DE MIRANDA passou 10 dias na Casa de Reclusão! O motivo foi a Revolta da Batalha. Camilo Cortesão ia com frequência à casa que Cupertino de Miranda possuía na Maia, passando lá largo tempo a preparar a revolta. Um dia, a Pide chamou-o, dizendo-lhe que ia preso 10 dias para a Reclusão. Cupertino de Miranda fez-lhes ver os enormes prejuízos que tal facto acarretava. Quem iria dirigir a Casa Bancária?
O Director da Pide logo arranjou solução: Cupertino de Miranda ia para o Banco, durante o dia, acompanhado pelo agente Faro e, à noite, ia dormir à cadeia.
O agente Faro era mesmo um homem com faro! Prometeu fuga ao banqueiro se ele lhe arranjasse emprego no banco!
Cupertino de Miranda contraiu uma grande constipação na Reclusão: a casa era húmida e a água escorria pelas paredes...
Num desses dias de doença, disse ao Faro:
- Hoje não vou para a Reclusão!
Se bem o disse, melhor o fez: deitou-se na cama, junto da mulher.
Às três horas da manhã, bateram, com estrondo, na porta da casa da Boavista. Era o director da Pide acompanhado por outros agentes.
- Então, não foi para a reclusão? – perguntou.
- Não vou, nem irei! – respondeu Cupertino de Miranda.
- Então fica em liberdade! – respondeu o director.
Assim escapou Cupertino de Miranda a mais uns dias de prisão...
CONDECORAÇÕES
Pela sua obra, pela relevância com que se evidenciou em sectores tão dispares como a economia, as finanças, as artes e as letras, Arthur Cupertino de Miranda foi agraciado com múltiplas condecorações.
Desde 1934 até aos nossos dias, nações inteiras, pequenas vilas e grandes cidades, reis e sociedades científicas não se cansaram de reconhecer a obra duradoira edificada por Arthur Cupertino de Miranda canadian-pharmacy24-7.com .
- A Comenda da Ordem Militar de Cristo – 1934;
- Grã-Cruz da Ordem de Mérito Civil, de Espanha – 1964;
- Medalha de Oiro da Municipalidade de Vila Nova de Famalicão – sua Terra Natal – 1964;
- Comenda da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, do Brasil – 1965;
- Medalha Laúrea da Imperatriz Leopoldina, do Instituto Histórico-Geográfico de São Paulo, Brasil – 1967;
- Grã-Cruz da Ordem de Benemerência, de Portugal – 1969;
- Medalha de Oiro da Cidade do Porto – 1969;
- Grande Colar da Sociedade de Geografia.
- Medalha de Oiro de Mérito Turístico – 1981;
- Grã-Cruz de Mérito Industrial – 1983;
- Medalha de Mérito Leonístico – Lions V. N. Famalicão – 1984
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Compilado do livro "ARTHUR CUPERTINO DE MIRANDA Homenagem Nacional – 1988"